27/12 - Da Argentina ao Brasil - 870km

Era o dia de partir, que tristeza, levantamos com dificuldade e fomos para a moto. Estávamos preocupados em relação ao tempo, mas novamente tiramos a sorte grande, outro dia lindo de muito sol. Fomos carregar a moto, essas malas laterais (alforjes) são realmente fantásticas, nos acompanharam esse período inteiro sem que tivéssemos que nos preocupar com elas. Tirar e botar essas coisas na moto não leva mais do que alguns segundos, um investimento alto que valeu muito a pena.
O GPS parecia estar nos sacaneando, saímos de Buenos Aires tendo que cortar a cidade inteira, tenho certeza que deve ter algum atalho, mas tudo bem, estávamos curtindo.. Ao entrar na rodovia, que coisa boa, várias pistas, velocidade máxima em 130km/h, e novamente muitas placas que indicam em que velocidade se deve andar em cada pista, aquele problema tupiniquim de motoristas lentos na esquerda é muito raro lá.. Rapidamente vencemos os primeiros 100km rodados e paramos pra abastecer, pela primeira vez vi policiais em motos, em baita motos.. Matamos uns red bulls e fomos pra estrada novamente. Aos poucos aquela excelente pista larga foi se estreitando, mas a qualidade do asfalto se mantinha. Naquele ponto os limites de velocidades não passavam de “conselhos”, o pouco trânsito que se estreitara andava mais rápido, ótimo. Começou a bater a vontade de dar uma parada pra esticar as pernas, e quem disse que arrumávamos um posto de gasolina? Estrada com margens desertas, nada dos dois lados, droga, vamos ir seguindo. Quando a bunda já estava quadrada achamos um belo posto, parei em frente à bomba de gasolina e, para a minha surpresa, “No tiene Nafta” - Sério, nenhuma nafta? – No.. Caramba, um posto de gasolina bonito sem gasolina, estranho.. Paramos na conveniência e novamente mais um red Bull pro tanque. Descansamos uns minutos e subimos na moto novamente.
Mais a frente a estrada piora bastante, a tal da Ruta 14 está em reformas, por conseqüência se anda a maior parte do tempo em estrada simples. Tendo eventualmente que passar por uns desvios improvisados, acho que cortamos uns 15 desvios, a maioria em estrada de chão batido, com alguns trechos de barro mesmo, muito ruim pilotar essa moto carregada nesse tipo de solo.. Em outra parada conversei com uns brasileiros, eles dirigem caminhões cegonhas cheios de caminhonetes, em pouco tempo a conversa se encaminhou para a corrupção de alguns membros da Policía Caminera, que patrulha as estradas. Um dos motoristas me contou uma história que de tão absurdo se torna ridícula; os motoristas eram constantemente parados pela polícia, que sem qualquer motivo e sem delongas exige propina.
A empresa de transportes estava tendo dificuldade para administrar esse custo “frio”, e optaram por pagar uma MENSALIDADE de propina aos policiais!! Isso mesmo, mensalmente pagam uma “taxa de contribuição”, que creio ir para os cabeças da corrupção.. Com isso junto da documentação do veículo eles andam com um documento dizendo que “a empresa XXX é amiga da corporação Caminera”, toda vez que são parados eles entregam tal declaração, sendo prontamente liberados. O cara até me contou de policiais desinformados que, com extrema arrogância, nem olham tal documento e continuam extorquindo, o motorista pede para que consultem sobre a contribuição, então, pelo rádio, os policiais recebem um “não bota a mão nesse “cliente” pois ele é VIP do patrão” e de cabeça baixa agradecem a cooperação e desejam boa viagem! Caramba, a que ponto chegaRAM... Na mesma conversa ele me apontou os comandos policiais a frente, que segundo ele são os piores..
Seguimos rodando, dessa vez já decididos a entrar no Brasil naquele mesmo dia. Passei por um comando, nada de me pararem.. Passei por outro, novamente nada. Já imaginava que o cara estava exagerando. Na terceira vez fui parado. Com nojo imaginei ter que dar dinheiro a algum mau caráter.. Um policial pediu meus documentos e os da moto, conferiu a placa, os documentos, e desejou boa viagem.. A parada forçada não durou nem 2 minutos.. Que bom, a única experiência que tive com a Caminera foi com um excelente profissional, aparentemente de bom caráter..


Pouco mais a frente entramos no Brasil, a burocracia aduaneira foi rápida, com excelente atendimento por parte das autoridades Argentinas. Não sei se eles recebem o mesmo tratamento por parte dos nossos agentes, mas realmente espero que sim. O momento em que se cruza a fronteira é sempre meio estranho, passar por isso com alguém que está de mau humor não é legal.. Todos pareciam apoiar a idéia desse mototurismo. Uma agente aduaneira até saiu da sua cabine e nos acompanhou até a moto, perguntando sobre a viagem e elogiando a aventura, achamos isso sensacional.. Saímos de lá com a melhor “última impressão” que se pode ter da Argentina. Ainda na cidade fronteiriça, Uruguaiana, decidimos rodar mais um pouco, rumamos para São Borja, uma cidade pequena, junto a outro fronteira com a Argentina. Já devia passar das 20horas quando encontramos um agradável hotel, o sol se pôs enquanto eu guardava a moto. Deixaram que eu colocasse a moto dentro do hotel, numa sala de reuniões, muito legal. Lá encontramos um pai e filho, que viajavam também para a Argentina de moto, com um roteiro muito legal, que envolveria encontrar a esposa no aeroporto de Buenos Aires, passear também pelo Uruguai e em seguida enquanto a esposa e o filho voltassem de avião, o pai iria de moto ao Chile, sensacional.Foram 870km percorridos em umas 12 horas de sol, nosso recorde de km e tempo em cima da moto, estávamos exaustos, mas contentes pelo feito.. Depois de um banho quente, enquanto pensávamos se iríamos rodar o restante em um ou dois dias, descemos para o restaurante do hotel, cerveja brasileira trincando de gelada, pastéis e etc, gostinho de Brasil na boca!


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